As ações da Azul (AZUL4) tiveram recuperação na sexta-feira (19), com alta de 3,88%, mas ainda caem 18,11% em 2024, a quarta maior baixa do Ibovespa, que acumula queda de 4,88% no mesmo período. Em meio a essa forte desvalorização, os analistas do Goldman Sachs destacaram os motivos para tanto e reforçaram a recomendação de compra para o nome. O banco tem preço-alvo de R$ 27,60 para o ativo, elevando em R$ 26,60 em relação ao target anterior, o que corresponde a um potencial de valorização de 111% frente o fechamento da véspera.
“Em suma, continuamos a ver a Azul bem posicionada para se beneficiar do aumento do poder de precificação no mercado doméstico brasileiro num contexto de queda dos preços do combustível de aviação ao longo de 2024”, apontam os analistas. Para o banco, a queda pode ser atribuída, pelo menos parcialmente, ao desempenho inferior do seu par Gol (GOLL4) em meio aos rumores da semana passada sobre recuperação judicial. O Goldman ressalta que as ações da Azul e da Gol têm forte correlação.
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Neste cenário, a equipe de análise do banco acredita que a Azul deverá entregar um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) em 2024 de cerca de R$ 7 bilhões, bem acima do guidance recentemente divulgado de cerca de R$ 6,3 bilhões (+11%) e do consenso de R$ 6,2 bilhões (+13%). Esse Ebitda deve, por sua vez, levar a empresa a gerar FCF (fluxo de caixa livre, na sigla em inglês) positivo este ano (o Goldman modela cerca de R$ 500 milhões em FCF para 2024, após 4 anos de consumo significativo de caixa).
O banco vê um ambiente competitivo saudável e em melhoria. “Atualmente, vemos o mercado doméstico brasileiro como um mercado racional para as companhias aéreas, uma vez que as empresas se concentram na reconstrução da lucratividade em vez de aumento da capacidade. Além disso, no final de 2023, o crescimento da capacidade desacelerou no mercado interno (como referência, a capacidade do 4T23 ficou estável). Na nossa opinião, isto deverá aumentar ainda mais o poder de fixação de preços das companhias aéreas brasileiras, mesmo num contexto de flexibilização dos preços dos combustíveis de aviação, conforme discutido abaixo”, afirmam os analistas.
O banco espera que os preços do combustível de aviação caiam em relação às máximas observadas alguns anos passados. Isso, juntamente com o poder de preços, corrobora a visão do Goldman de maior expansão das margens. Os analistas veem ainda que os preços do petróleo permanecerão na faixa entre US$ 70-90 o barril (bbl) para os próximos anos.
O Goldman também reforça que, em outubro de 2023, a Azul concluiu a renegociação com seus arrendadores e demais fornecedores, o que aliviou as preocupações relacionadas com a liquidez da empresa. A Azul ainda encerrou o 3T23 com posição de caixa (caixa e equivalentes + investimentos no curto prazo) de cerca R$ 1,7 bilhão com pagamentos limitados de dívidas nos próximos 12 meses (cerca de R$ 1,1 bilhão). O banco reforça a visão de que o risco do balanço diminuiu significativamente pós-reestruturação aliada a um ambiente de mercado saudável.
O valuation de Azul, na avaliação do Goldman, continua atrativo, sendo significativamente abaixo dos níveis anteriores à pandemia e do passado recente, levando o banco a acreditar que o mercado não leva plenamente em conta a sua percepção de uma perspectiva melhorada para o empresa.
Em relatório, o BTG Pactual também citou alguns motivos para a forte queda recente da Azul. São eles, (i) um aumento acentuado na taxa de juros de longo prazo dos EUA, que estimula a aversão ao risco em todo o mundo, levando a maioria das ações de companhias aéreas globais sob nossa cobertura a ter um desempenho inferior recentemente; (ii) problemas contínuos de fornecimento com as fabricantes de aeronaves, já que a paralização dos Boeing 737-MAX 9 pressiona o fornecimento de novas aeronaves – embora observemos que a Azul não opera os modelos da Boeing; (iii) maior instabilidade nos preços do petróleo, que, embora estejam lateralizados, têm mostrado mais volatilidade nos últimos dias com notícias sobre tensões crescentes no Oriente Médio; e (iv) questões de mercado, já que um short squeeze nas ações da Gol fez com que investidores de pair trade desmontassem suas posições na Azul, levando a um ajuste de preços.
Porém, o banco acredita que os fundamentos do setor favorecem a empresa, como evidenciado pelo desempenho das ações da Latam desde as notícias iniciais do pedido de recuperação judicial da Gol no Chapter 11.
“Não concordamos com a visão de que o Chapter 11 removeria a pressão sobre a Gol para negociar com os lessores ou adiar o redimensionamento de sua capacidade, já que a transportadora de baixo custo já reportou menor ASK(oferta total) em dezembro, o que acreditamos estar relacionado ao atraso nas entregas da Boeing. Vemos o redimensionamento da capacidade apoiando a racionalidade de preços na indústria aérea (lembre-se do pedido de recuperação judicial da Avianca em 2019)”, com Latam e Azul devendo naturalmente capturar a ausência de capacidade da Gol, segundo os analistas.
A Latam tem a maior sobreposição de rotas com a Gol, especialmente nos hubs mais movimentados como Congonhas, Santos Dumont e Brasília. “No entanto, acreditamos que a Gol deve priorizar as rotas mais rentáveis, deixando os ajustes de capacidade para rotas de menor densidade que se sobrepõem com a Azul”, avalia.
O banco segue com recomendação neutra para AZUL4, com preço-alvo de R$ 20 (upside de 53%), mas afirmou que está mais otimista com a empresa, que negocia a um múltiplo barato, segundo os analistas.
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