Em pleno pico de infeções respiratórias, associado à descida das temperaturas habitual nesta altura do ano, o médico e investigador Tiago Afares, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), esclareceu, ao Notícias ao Minuto, as principais diferenças nos sintomas causados pelas constipações comuns e pela gripe, aos quais as pessoas deverão estar atentas no momento de decidir se se dirigem, ou não, a um serviço de urgências – que, por estes dias, está sobrelotado.
“O que uma pessoa pode ter é uma suspeita ou uma noção do que é que mais provável, ser gripe ou constipação, sendo que depois, o diagnóstico de segurança seria feito por um teste que até conseguimos fazer na farmácia. De qualquer forma, no global, as duas doenças são relativamente diferentes”, começou por explicar.
Constipação? “Pingo no nariz”
Por um lado, a constipação “é uma infeção normalmente causada por rinovírus, portanto vírus que se transmitem muito facilmente mas que não tendem a causar doença grave, e que fazem uma infeção, principalmente, das vias aéreas superiores”. Os sintomas principais tendem a ser “o pingo no nariz, uma pequena sensação de mal-estar, o nariz entupido, a garganta com um sabor mais desagradável ou alguma noção que temos secreções, e normalmente não passa disso”.
“A gripe acaba por ser uma infeção mais grave”
A gripe, por sua vez, “normalmente causada pelo vírus da gripe, a ‘influenza’, pode ter vários tipos”, sendo o mais frequente o A, que é “o que estamos a ver este ano”. “Tende a ser mais agressiva, tende a dar mais dores musculares fortes, tende a dar febre, que dura apenas alguns dias, mas pode ser muito alta”, disse o médico pneumologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, acrescentando que pode também “dar algumas queixas gastrointestinais, portanto diarreia e vómitos”, principalmente “nas pessoas mais velhas”.
“Por outro lado, a gripe mais frequentemente descompensa doenças de base. Asma, doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), ou doenças cardíacas, como a insuficiência cardíaca. A gripe acaba por ser uma infeção mais grave”, continuou, referindo que os sintomas costumam ser “mais graves”, nomeadamente “febre, dores musculares, cansaço, queixas respiratórias como tosse seca, ou falta de ar, o que é uma noção de uma situação que se está a agravar”.
“A constipação, embora possa dar alguma tosse seca por este envolvimento nasal e da garganta, não tende a ser tão grave”, esclareceu.
Há teste na farmácia – se não é grave, fique em casa
Tiago Alfares reiterou que “existem testes disponíveis na farmácia” para que as pessoas possam fazer a despistagem da gripe, sendo que “o mais importante, sabendo a pessoa que tem gripe, ou Covid-19, é utilizar máscara, lavar frequentemente as mãos, evitar aglomerados de pessoas, ficar mais em casa”.
“Na prática, quando uma pessoa tem uma destas infeções e não tem doença subjacente nem doença muito grave, o melhor é mesmo ficar em casa, hidratar-se, beber muitos líquidos, tomar medicação para a febre, o paracetamol em primeira escolha e depois o ibuprofeno”, recomendou.
Urgências? “Ida direta deve ser evitada”
Já sobre as idas às urgências, que têm assistido um maior fluxo de pacientes nas últimas semanas, Tiago Afares considerou que “a ida direta deve ser evitada e só se deve infundir à urgência depois de contactar a Saúde24, que acaba por fazer essa indicação e essa referenciação”.
Os sinais de alerta que alguém que deve não só ligar à Saúde24, se for mais urgente o 112 ou mesmo ir à urgência, diz o médico são “uma doença que demora muito mais do que quatro ou cinco dias, com febre que não passa, uma falta de ar intensa e anormal, exacerbação de uma doença de base, como por exemplo os asmáticos, que conseguem perceber quando estão em crise, ou os doentes com DPOC ou insuficiência cardíaca”.
Também a “dor no peito, expetoração com sangue ou qualquer outra coisa que preocupe muito a pessoa” constam dessa lista, recordando o médico pneumologista que se deve ter um cuidado redobrado com “as pessoas mais idosas, com doenças com imunossupressão.
“A não ser que seja uma emergência, provavelmente o melhor é ligar para o Saúde24 e ter uma orientação, ou mesmo uma referenciação ao serviço de urgência sem que a pessoa vá diretamente”, concluiu.
Recorde-se que, por estes dias, os tempos médios de espera para doentes urgentes nos hospitais do país estão muito elevados, com especial incidência na região de Lisboa, que, esta quinta-feira de manhã, variavam entre as mais de 18 horas, no Beatriz Ângelo, em Loures, e uma hora no Garcia de Orta, em Almada.
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