“Ainda há alguma confusão e os transportes pioraram, na nossa opinião, dos tempos de espera, eliminação de carreiras e principalmente nos tempos de espera nos bairros”, afirmou à Lusa a porta-voz da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa (CUTL), Cecília Sales.
A Carris Metropolitana assumiu o serviço dos transportes coletivos de passageiros rodoviários nos 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa (AML) — com apenas ligações intermunicipais no Barreiro, Cascais e Lisboa, que também têm serviços próprios –, primeiro na margem sul do Tejo (em junho e julho de 2022) e depois na margem norte, em janeiro deste ano.
“As melhorias não são visíveis para nós, pelo contrário, os destinos dos bairros da cidade não foram aumentados, portanto, isto leva a que às nove da noite não haja transportes para a periferia ou carreiras para os bairros da cidade”, acrescentou Cecília Sales.
A porta-voz admitiu que “as adaptações levam algum tempo”, mas apontou a questão de a exploração ser feita por rodoviárias privadas e “a falta de material circulante”, como autocarros, e de motoristas, sem alterações positivas.
Para a comissão, os problemas estendem-se às ligações ao metropolitano, que “também está com grandes dificuldades” e “até é mais difícil na periferia”, como Sacavém.
“De uma forma substancial melhorou, agora continua a ser insuficiente para um concelho tão grande e acho que é necessário continuar a investir [em] mais autocarros, com mais regularidade, com mais presença e intensidade”, considerou Miguel Rato, da Comissão de Utentes da Linha de Sintra (CULS), porque “durante as horas de ponta as coisas funcionam”, mas ao fim de semana e à noite é necessário reforçar a oferta.
O porta-voz da comissão de utentes, que tem o seu foco no serviço ferroviário da Linha de Sintra, notou que houve “uma mudança substancial” no transporte prestado, com a mudança de numeração de carreiras e destinos — apesar de alguma confusão inicial, a situação melhorou.
“Há ainda muitas queixas, obviamente, autocarros muito cheios, em períodos de hora de ponta, em períodos de grande afluência, uma necessidade enorme, como lhe digo, de reforçar esta oferta”, alertou.
“Nós não queremos transportes públicos só porque é um fetiche, nós queremos transporte público porque, de facto, temos que mudar o estilo de vida que nós temos e o carro é algo que nós temos que preferir no futuro”, sublinhou Miguel Rato, apontando a necessidade de reforçar o investimento nos transportes públicos.
Para o representante, é indispensável reforçar a frota e haver “mais oferta, com mais dinâmica, mais conforto, porque é muito desconfortável ainda fazer viagens de autocarro ou comboio, sem eficiência, sem este tipo de oferta, a pontualidade”.
No plano e orçamento da Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), que tutela a Carris Metropolitana, refere-se que “a estimativa de passageiros para 2024 (cerca de 663,5 milhões) parte do pressuposto de que haverá um crescimento progressivo de 0,5% ao mês — um cenário conservador, que prevê um crescimento inferior ao ocorrido nos últimos dois anos, devido à maior distância temporal face à implementação das medidas indutoras”.
A Carris Metropolitana iniciou a sua operação de forma faseada, primeiro no distrito de Setúbal, em 2022. Em janeiro de 2023 arrancou na denominada área 1 (Viação Alvorada), na Amadora, Oeiras e Sintra e ligações com Cascais e Lisboa, e na área 2 (Rodoviária de Lisboa), em Loures, Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira.
“Em outubro de 2023 registaram-se picos de procura que nos aproximam dos 600 mil passageiros diários e que nos permitem vislumbrar que esta é a operação que mais passageiros transporta por dia na Área Metropolitana de Lisboa”, lê-se na mensagem do conselho de administração da TML, confiante que o próximo ano “vai certamente melhorar e consolidar” estes números.
Os administradores Faustino Gomes, Rui Lopo e Sónia Alegre destacaram entre os projetos para 2024 o “desenvolvimento de uma solução para utilização do cartão bancário na Carris Metropolitana, a gradual simplificação e desburocratização no acesso aos transportes através do Navegante +ágil e o Plano Metropolitano de Mobilidade Urbana e Sustentável enquanto ferramental estruturante dos projetos metropolitanos de mobilidade e transportes”.
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