O ano de 2023 foi prolífico para a produção documental. Alguns títulos excelentes passaram pelo cinema e pelas plataformas de streaming, narrando histórias diversas e desafiando formatos manjados do gênero. Confira a seguir uma seleção da equipe de VEJA com os sete melhores documentários do ano.
Atiraram no Pianista
Em 1976, o pianista Tenório Júnior, então em turnê com Vinicius de Moraes, saiu de seu hotel em Buenos Aires para comprar sanduíches — e nunca mais voltou. A perda foi imensurável para a cena do samba-jazz e comoveu lendas e colegas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento, que prestam depoimentos ao documentário dos espanhóis Javier Mariscal e Fernando Trueba, dupla indicada ao Oscar pela animação Chico & Rita. Mantendo seu estilo de ilustração característico, eles amarram a história por meio de um jornalista fictício dublado por Jeff Goldblum e a colorem não só para manter a memória de Tenório viva, como também para denunciar as atrocidades das ditaduras que imperaram sobre a América Latina na segunda metade do século XX.
De Tirar o Fôlego
A produção da Netflix segue a trajetória da atleta italiana Alessia Zecchini, recordista de mergulho livre. Boa parte do filme mostra os desafios e perigos de quem pratica o esporte radical, um dos mais perigosos do mundo, que envolve mergulhos profundos sem o auxílio de oxigênio ou impulso — Alessia, por exemplo, chegou a bater 123 metros de profundidade em alto-mar, em um nado de quase 4 minutos de duração. Enquanto mostra o preparo e a vida dos envolvidos com o esporte, assim como suas regras e histórico, o filme destaca a relação de Alessia e seu ex-treinador, Stephen Keenan, em uma narrativa humana e sutil sobre as escolhas e as paixões peculiares que movem pessoas dispostas a alcançar o que parece impossível.
Elis e Tom — Só Tinha de Ser com Você
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Por quase cinco décadas, o cineasta Roberto de Oliveira, que foi empresário de Elis Regina, guardou filmagens dos bastidores da tensa gravação de um dos álbuns brasileiros mais importantes de todos os tempos, Elis & Tom. O registro, feito em um estúdio de Los Angeles em 1974, teve suas imagens e sons restaurados, resultando neste excepcional documentário. Das brigas aos momentos prosaicos de convivência entre os dois, as imagens mostram a cantora, aos 29 anos, ao lado do maestro Tom Jobim, aos 47 anos, reinterpretando clássicos como Águas de Março, enquanto os inevitáveis choques de egos surgem. Ela, virtuose conhecida por seu potente gogó, e ele, um dos criadores da minimalista bossa nova, dão lugar a uma sinergia jamais repetida.
O Túnel dos Pombos
A história de David Cornwell, conhecido pelo pseudônimo John le Carré, é daquelas que de fato merecem a frase “digna de um filme”. Ex-espião britânico, Cornwell era filho de um golpista que o ensinou a arte de mentir. Mais tarde, ao testemunhar a banalidade da Guerra Fria, o agente secreto passou a registrar suas experiências em belas tramas de espionagem, marcando a história da literatura. No documentário do vencedor do Oscar Errol Morris, da Apple TV+, Cornwell concede o que se tornou sua última entrevista (ele morreu em 2020, aos 89 anos), em uma conversa sincera e inteligente, que hipnotiza, assim como sua prosa escrita.
Vale o Escrito
A série documental do Globoplay expõe as raízes de uma das culturas mais antigas do Rio de Janeiro: o famoso jogo do bicho. Com imagens de arquivo inéditas e depoimentos reveladores, a produção traça com tons cômicos como a prática ilegal financia o Carnaval carioca há mais de 50 anos, com bicheiros carismáticos, mas que agem como mafiosos vivendo em disputas territoriais e com acusações de assassinato de rivais. O mais interessante (e assustador) é ver os entrevistados contando aos risos assuntos sérios como racismo, homicídio e tiroteios.
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Still: A História de Michael J. Fox
Queridinho de Hollywood nos anos 1980, Michael J. Fox foi alçado ao estrelato mundial com a franquia de filmes De Volta para o Futuro (1985-1990) e vislumbrava uma carreira de sucesso. A trajetória do astro, entretanto, tomou um rumo bem diferente quando ele, aos 30 anos, descobriu um diagnóstico precoce da doença de Parkinson, doença neurológica degenerativa que afeta os movimentos do corpo e a fala. No documentário bem produzido da Apple TV+, o ator narra a própria história e abre sua intimidade, com momentos da vida real intercalados de forma brilhante por cenas de filmes e séries estrelados por ele, que servem como um arquivo para acompanhar sua impactante trajetória artística.
O Marinheiro das Montanhas
O diretor cearense Karim Aïnouz tem uma história peculiar: sua mãe, brasileira, conheceu seu pai, um argelino, nos Estados Unidos. O plano é que os dois criariam o filho em Fortaleza, porém, o genitor acabou voltando para seu país de origem. Foi só aos 18 anos de idade que Aïnouz conheceu o pai e, em 2019, ele pisou pela primeira vez na Argélia, viagem que resultou no belo e poético filme O Marinheiro das Montanhas. Por lá, o cineasta encontrou familiares que não conhecia e descobriu intrigantes histórias do passado, informações que fizeram parte de um amplo processo de autoconhecimento do cearense-argelino.
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